Saturday, July 23, 2005

    Literaturas Africanas de Língua Portuguesa.

    Texto com minhas impressões sobre a disciplina :"Literatura de Angola e Outros Países Lusófonos" , ministrado pela Professora Doutora Maria Célia Rua de Almeida Paulillo no Curso de Letras.
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    "Hoje eu sei: Áfica rouba-nos o ser.E nos vaza de maneira inversa: enchendo nos de alma."
    Mia Couto em "A Varanda do Frangipani"
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    Primeiramente, gostaria de ressaltar a sastifação e o privilégio de poder ter acesso a literatura de tamanha riqueza. Ao nos depararmos com esse tipo de literatura, vem logo o estranhamento. Como ele se dá? Ocorre que temos aquela visão estereotipada do continente africano já validado pela sociedade em que vivemos. Segundo, podemos dizer que poucos sabem que se fala portugês em terras africanas e, por fim, como pode um branco dar voz e incorporar a negritude em seus temas? Então, de forma exótica, tomamos como verdade o que ouvimos sem conhecer outros aspectos que compôem esse quadro, nesse caso, restringindo a literatura e, consequentemente, é isso o que vai causar esse espanto.
    Além disso, a meu ver, falando em teoria, é interessante a possibilidade de o lado fértil e criativo da obra poder ser visto de forma livre, sem rotulações como romântica, modernista, etc. É claro que elas refletem a época, daí o fato de não as desvincularmos de seu contexto histórico para termos outras leituras. Assim, ao situarmos no tempo essa produção literária podemos compreender a intenção, a estrutura profunda da obra literária. Nesse sentido, tomo as classificação que existe entre literatura "pré" e "pós" independência relevante para inferirmos outros significados na leitura da obra.
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    Ao fazer esse breve panorama das impressões que tive ao longo do curso, vejo essas literaturas já como clássica. Eu, por exemplo, resisto a ler muita literatura brasileira, de qualidade, contemporânea, sempre com aquela idéia de que bom mesmo é o clássico e além dessas leituras, é perda de tempo. Agora, quando percebemos a poesia numa obra de Mia Couto como em “A Varanda do Frangipani”, os detalhes de um cotidiano periférico contado de forma cômica e leve por Luandino em “A Estória da Galinha e do ovo”, e o social mostrado de maneira lírica na obra de Arnaldo Santos em “Menina Vitória”, passo a ter parâmetros no sentido de que há, sim, obras contemporâneas que provocam aquela sensação semelhante à experiência da leitura de Eça, José de Alencar, Machado de Assis, Alcântara Machado, e por que não dos universais Tolstói , Kafka, Goethe, Oscar Wilde ? Aliás , pensando bem, todos esses mencionados são universais uma vez que a mensagem que nos é passada sempre convergem para o belo, a leitura a partir de uma releitura das nossas experiências e das apresentadas nas obras.
    Enfim, tudo isso nos é apresentado mediante uma seleção. Portanto, é importante o papel do professor na indicação de uma bibliografia sobre o tema. Essa não pode ser indicada de forma aleatória, mas com o conhecimento. Isso o que vai dar o caráter de autoridade ao professor. Porém, são poucos que possuem esse “dom”, essa responsabilidade profissional que vai refletir na formação, em nosso caso, do futuro profissional da educação. E esse papel a Professora Doutora Maria Célia Paulilo desempenhou , no sentido mais integro do termo, com dedicação, autoridade, paixão e profissionalismo.
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    Em resumo, a combinação entre o espanto do novo apreendido a partir das leituras na disciplina de Literatura lusófona, a possibilidade de comparar as diversas literaturas e chegar a conclusão que seus papéis embora diversos são, também, convergentes para a expressão do belo e a disciplina conduzida com maestria pelo professor, resultam no cumprimento de uma das funções do curso de Letras que é, formar pessoas, sobretudo, humanas.

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